Eu não tenho
ouvido para a música. Limito-me a fechar os olhos e ouvi-la. Não me recordo de
uma única referência numa pauta ou frase musical referindo este órgão para
semelhante coisa.
Saber fechar os
olhos não estando a dormir é uma arte, isso posso assegurar, disse-te.
Há uma outra
coisa fantástica que é nunca se falar daquilo que não se sabe.
Nessa altura tive
a necessidade de te explicar porque passava tanto tempo a ouvir Brian Eno e a
olhar para o mar, calado.
Recordo-me de nos
termos rido porque era música “For Airports”. O que nos fez rir foi esta
conversa ter ocorrido nas falésias da costa vicentina e eu ter dito
“precisamente”, com um ar absoluto de quem sabe do que fala.
Ainda devo ter
acrescentado, mas um pouco mais tarde, o Verão chega sempre de repente e parte
rápido, como um punhal, ou uma traição. Sei do que falo. Fiz as contas.
“Aproxima-se a
época em que os corpos, até chegar Setembro, começam a entrar dentro das
histórias que vivem ou, por causa das marés, criam dentro de si. Mas isso é
indiferente, porque o resultado final é idêntico.” Tenho quase a certeza de que
foi mais ou menos isto que me respondeste. Ponho entre aspas porque nunca
costumavas falar assim.
Há
noites em que não conseguimos dormir na nossa cama. A razão, tirando um ou
outro pormenor técnico que tem a ver com molas e colchões, é simples. A nossa
cama é o único móvel fixo em casa. Estou cada vez mais convencida de que se
dormíssemos de outra forma não constituía problema de maior partir.
Isso
disseste-me, e tenho a certeza porque fecho os olhos e sei que nunca mais nos
voltámos a ver. Volto a ouvir a «música para aeroportos» e tenho a certeza.
Fecho os olhos. Não consigo adormecer e a única coisa que me vem com clareza à
cabeça é a ideia de a cama ser sempre a mesma.
...só queria dizer que gosto muito.
ResponderEliminarMargaridaa
obrigado
Eliminar:)